Sunday, July 29, 2012

 

Marina Silva nas Olimpíadas


Marina disputou a eleição contra a presidenta Dilma, mas sua presença nas Olimpíadas só constrangeu o madeireiro Aldo Rebelo. Divergências políticas não empanam a grande homenagem dada ao Brasil no evento.



Tuesday, July 24, 2012

 

Alvorada voraz


Não há a razoabilidade sob qualquer aspecto arrancarmos crianças pobres de suas casas, jogá-las na caçamba de um caminhão e despejá-las na rua. A propriedade pode ser indenizada, mas o trauma vivido pelos pequenos e suas famílias é irrecuperável: esse desrespeito é uma tortura! A posse de um pedaço de terreno não justifica a coerção militar de uma comunidade, tal qual campo de concentração. Se isso tudo não é pisar nos Direitos Humanos, não sei mais o que é Humanidade.

Sunday, July 22, 2012

 

Da servidão moderna


Eliani Gracez*

Segundo o documentário “Da servidão moderna”, de Jean-François Brient, que está na internet com um apelo marxista, a escravidão não terminou, apenas mudou sua ideologia. A escravidão moderna é voluntária. O novo escravo escolhe o amo que ele quer servir, e com isso se julga livre. Estranha modernidade, diz o documentário, uma classe que não quer enxergar a sua servidão, não conhece a rebelião. Não luta mais pela sobrevivência ou por um lugar ao sol, luta por um objeto que lhes dê status social. A aglomeração em que vive e mora o escravo moderno é reflexo da servidão. Semelhante a jaulas e prisões.

O escravo moderno paga por sua jaula, e nela acumula mercadoria, sonhando em ser feliz. A ideologia de massa despoja cada ser de si mesmo. Não é mais a demanda que determina a oferta, mas sim a oferta que determina a demanda. E assim o escravo compra o que lhe é imposto – o modelo novo de celular, o carro com alta tecnologia. O velho computador não serve mais, o escravo moderno precisa de um computador de última geração, mesmo que seja só para acessar o Facebook. O escravo moderno não está no comando da situação, a situação comanda o escravo. A cada instante surgem novas necessidades para o escravo moderno, e é mais fácil aceitar a demanda imposta pelo mercantilismo do que lutar contra ela. E o que dizer da alimentação do escravo moderno? É quando ele se alimenta que demonstra melhor o estado de sua decadência. Sem tempo para se alimentar melhor, o escravo moderno se obriga a engolir rápido o que a indústria agropecuária produz. Consome o que a indústria da falsa abundância lhe permite consumir. A falsa ilusão da abundância de escolha pelos alimentos disfarça a degradação dos conservantes e corantes, dos pesticidas e hormônios. Irmãos menores, parafraseando São Francisco, são mortos cruelmente para servir de alimento. Mas o escravo moderno não se importa com isso. A regra do consumo é o prazer imediato. Como resultado deste prazer, o escravo está se tornando obeso.

A produção de energia, de alimento e de lixo está acabando com o planeta. As mudanças em termos de cuidados para com a natureza planetária são superficiais. E tudo continua como era antes. Para o escravo moderno não se rebelar contra o sistema consumista, houve uma inversão de valor. No passado, o trabalho era para quem não tivesse nobreza. Hoje, o trabalho enobrece o homem. Com esse pensamento o escravo alienou-se mais ainda. Com tanto trabalho, passam a vida a produzir aquilo que somente alguns terão direito de usufruir. Triste servidão! Obedecer, produzir e consumir, eis a regra. O escravo moderno obedece aos pais, obedece aos professores, obedece ao patrão. “De tanto obedecer, adquire reflexos de submissão”. Da obediência surge o medo de aventurar-se, medo de arriscar-se. O escravo moderno não sabe viver sem o poder que o criou, por isso ele continua a obedecer. O poder que governa o mundo tem o consentimento do escravo moderno, ele está disposto a pagar o preço por todo esse consumismo. O escravo moderno também precisa de um Deus, por isso entrega sua alma ao deus do dinheiro. Em nome desse novo deus, o escravo moderno estuda, trabalha, luta e serve fielmente. Em nenhum outro tempo alguém serviu tanto a um Deus como nos dias de hoje. O escravo moderno entende que o novo deus o libertará. Como se o dinheiro andasse de mãos dadas com a liberdade. O novo deus ninguém ousa recriminar. E assim a forma de poder forma escravos para o novo deus desde a infância. Crianças aprendem pela televisão que é possível usar daquilo que é mais baixo para vender qualquer coisa. Vender é tudo o que importa ao sistema consumista. O consumismo está acabando com o planeta.

*FILÓSOFA CLÍNICA  -  ZERO HORA, 22/07/2012, PÁG. 13

 

Prosperidade conjunta


 Kathrin Rosenfield*

A cidade de Amherst, Massachussets, onde me encontro neste momento, é chamada The Commonwealth of Amherst (Prosperidade Conjunta de Amherst). Ela tem 25 mil habitantes (mais ou menos o tamanho da Vila Assunção, da Tristeza e da Conceição juntos) e, para as decisões de administração e planejamento, 250 cidadãos são eleitos para apresentar projetos e votar como serão desenvolvidas as diferentes áreas. A cidade decide. Não é nem o prefeito, nem o secretário, nem o governador, nem o parlamento. São os delegados constituídos da cidade. Há críticas a essa atitude, e talvez muitas delas sejam justas. No entanto, é admirável que uma cidade possa não somente decidir, mas ter critérios para decidir. Agora penso em Porto Alegre, no bairro onde moro e pelo qual luto – uma luta muitas vezes inglória, sobretudo quando se trata do planejamento de médio e longo prazo...

O desenvolvimento é atropelado, sem planejamento, feito ao sabor de interesses e ideias desconjuntadas. Rapidamente eliminam-se os pulmões verdes da orla, que – em vez de ser reservada para o uso comum (Common Wealth) dos moradores atuais e futuros – já tem grandes partes loteadas para torres comerciais e residenciais. E como ficarão o trânsito e os serviços básicos (de escolas a centros médicos e hospitais)? Ninguém sabe muito bem como tudo isso irá funcionar num futuro próximo. É claro que pouco se pensa nos espaços culturais. Enquanto os prédios históricos do Centro são restaurados, os bairros perdem seus casarões – ou ainda, eles caem em abandono ou são cedidos para fins bizarros –, como acontece neste momento com os charmosos prédios do complexo arquitetônico localizado na Rua Landell de Moura, 430, no bairro Tristeza. Os moradores reivindicam há anos a transformação do local em centro cultural. Ações explícitas, racionalizadas e insistentes começaram em 2005! Havíamos sugerido que o governo se unisse com a iniciativa privada para criar uma ilha cultural necessária para o desenvolvimento saudável da Zona Sul, onde faltam cinemas de qualidade, livrarias e bibliotecas, teatros e salas para dança, salas de exposição e de conferência, cafés...

No entanto, fomos surpreendidos com a recente notícia de que esse mesmo local – que reivindicamos desde 2005 – será ocupado por nada menos que quatro entidades que não refletem nenhum dos desejos dos moradores: pelo Movimento Tradicionalista Gaúcho, pelo Instituto de Artes Cênicas do programa Galpões Culturais, por “um grupo da comunidade, que já está no local, mas que deverá apresentar um projeto de ações culturais e de manutenção do espaço” e... pela Superintendência de Serviços Penitenciários – conforme uma decisão tomada numa “audiência pública” para a qual nenhum morador e nenhuma das entidades de bairro foram chamados.

As perguntas que se colocam são sem fim: quando e onde foi realizada essa audiência e quem participou? Sob que base o lugar foi cedido para o MTG? O que a Susepe vai fazer lá? E por que os reiterados pedidos da população não tiveram nenhuma resposta? Se existia um movimento da comunidade desde 2005, por que ninguém foi chamado?

Mas a pergunta principal, a pergunta de princípio para qualquer planejamento urbanístico e cultural é: que critérios foram utilizados para que quatro atividades tão díspares fossem escolhidas para um espaço público? Um e-mail para o gabinete da Secretaria da Cultura (enviado no dia 13 de julho) ficou – como é quase sempre de praxe – sem resposta. As ideias, contribuições e reivindicações dos moradores são ignorados. Fica claro que, aqui, não se trata de “prosperar conjuntamente”!

*PROFESSORA DA UFRGS  -  Zero Hora, 22/07/2012, PÁG. 14

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